Histórico
Um paciente do sexo masculino de 3 anos de idade, com duplo arco aórtico (DAA) conhecido, compareceu ao hospital devido a disfagia progressiva ao longo dos últimos 6 meses. Suspeitou-se de uma compressão esofágica e uma angiografia torácica por TC (AngioTC) foi solicitada para avaliação adicional.
Diagnóstico
As imagens da AngioTC demonstraram um DAA se separando da aorta ascendente, formando um anel vascular completo, unindo-se posteriormente e se reformando na aorta descendente. Ambos os arcos estavam patentes, sem evidência de um segmento com atresia. O arco direito era dominante. Cada arco originou artérias subclávias e carótidas separadas ipsilaterais, de acordo com o sinal das quatro artérias. A traqueia e o esôfago se encontravam cingidas no anel vascular. O esôfago proximal estava comprimido pelo arco esquerdo, a traqueia estava intacta. Não havia sinais de ducto arterioso patente ou qualquer outra anomalia cardíaca. O paciente foi submetido a ligação cirúrgica do arco esquerdo, bem como do ligamento arterioso. Sua disfagia melhorou substancialmente logo após a cirurgia. No acompanhamento quatro meses depois, ele continuava bem, somente com reclamações pontuais.
Fig. 1: Imagens axiais (Fig. 1a-1f, craniocaudal) e uma imagem com a cVRT (Fig. 1g) mostram um esôfago proximal comprimido e descontinuado no nível do arco aórtico esquerdo (setas laranjas). Ele se move da posterior esquerda para a posterior direita da traqueia e reaparece abaixo do anel vascular (setas brancas).
Fig. 2: Imagens com a cVRT mostram uma DAA patente com arco direito dominante. Cada arco originou artérias subclávias e carótidas separadas ipsilaterais, de acordo com o sinal das quatro artérias.
Comentários
O DAA é uma anomalia de anel vascular congênita, resultado da ausência de regressão do sistema de arco duplo embriológico hipotético. Os dois arcos que circulam a traqueia e o esôfago podem causar compressão extrínseca, resultando em desconforto respiratório e/ou problemas com a alimentação. Indica-se correção cirúrgica em todos os pacientes sintomáticos. A ATC desempenha um papel fundamental na avaliação pré-operatória, definindo a anatomia vascular em detalhes. Contudo, obter imagens cardiovasculares sem artefatos de movimento é um desafio em casos pediátricos. Artefatos de movimento são geralmente causados pela frequência cardíaca mais elevada (125 bpm neste caso) e pela incapacidade da criança em observar as instruções de respiração. Para superar esses desafios, o Turbo Flash, uma técnica de varredura ultrarrápida inovadora, foi projetado para o tomógrafo de fonte dupla, SOMATOM Force, permitindo uma velocidade de aquisição de 737 mm/s. Neste caso, um intervalo de varredura total de 13,4 cm é finalizado em apenas 0,25 s. Embora o paciente estivesse sedado devido à sua ansiedade extrema à injeção do contraste, a varredura foi realizada com respiração livre. A qualidade ideal da imagem obtida facilita um diagnóstico seguro. O tomógrafo também fornece uma alta resolução temporal de 66 ms, que ajuda a congelar o movimento do coração. Para uma demonstração em vida real, em três dimensões, dos detalhes anatômicos complexos, é aplicada a técnica de renderização de volume cinematográfica (cVRT), permitindo uma compreensão intuitiva das estruturas anatômicas espaciais e uma comunicação mais fácil em todos os lados.